Empresários, políticos e afins
empunhavam seus celulares para tirar fotos com o ex-presidente Lula. O ano de 2014
começava como sempre, Lula era o centro das atenções mesmo quando os holofotes
cabiam a sua sucessora.
Pelas gravações, o Brasil e
o mundo acabaram conhecendo o que o ex-presidente pensa de verdade sobre
diversos assuntos por meio de áudios repetidos a exaustão em todos os
noticiários. O homem que foi
chamado de "O Cara" pelo
presidente Barack Obama, em 2009, hoje se vê rebaixado a pixuleco, um caricato
boneco inflável vestido de presidiário que toma conta das manifestações
pró-impeachment pelo Brasil. Se já era considerado um ladrão por metade do
país, os áudios, repetidos à exaustão nos noticiários e até em memes da
internet.
Os áudios são um tiro de canhão nas intenções do Governo de
restaurar a confiança de que o país poderia encontrar uma saída para a crise
política.
Na leitura das gravações
obtidas pela equipe de Moro, porém, saltam duas suspeitas, segundo os investigadores,
No primeiro áudio tornado público, Dilma avisou Lula que enviava o termo de
posse de ministro para ele usar só “em caso de necessidade”, um argumento
que não caiu bem para a Justiça, e na sequência, para a opinião pública.
O Planalto deu sua explicação, dizendo que a conversa da
presidenta transcorreu nesse sentido “uma vez que o novo ministro, Luiz
Inácio Lula da Silva, não sabia ainda se compareceria à cerimônia de posse
coletiva”.
A posse dele fora suspensa e uma enxurrada de ações judiciais
ainda tramitavam em foros de todo país pedindo que ele não se tornasse
ministro. Foram mais de 50 na primeira instância e uma dezena no STF. Na sexta,
foi a vez do ministro do Supremo Gilmar Mendes suspendeu a nomeação e devolver
o processo de Lula a Curitiba.
Antes de ser empossado na quinta-feira passada, Lula vinha numa
maratona de conversas, que terminaram com uma lista de exigências apresentadas
na noite de terça-feira e na manhã de quarta. As principais delas foram
autonomia para atuar junto a parlamentares, montar sua própria equipe no
ministério e, principalmente, em dar uma “guinada” no Governo Dilma Rousseff.
Nos diálogos com a
presidenta, Lula chegou a pedir a Dilma a cabeça do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e do presidente do
Banco Central, Alexandre Tombini.
Sempre chamando Lula de
presidente durante uma entrevista coletiva surpresa em que comunicou a chegada
de seu novo auxiliar, Rousseff negou publicamente que haverá mais mudanças em
seu primeiro escalão.
Nos bastidores, contudo, era
dado como certo que os ministérios das Relações Exteriores, da Comunicação
Social, da Educação e dos Esportes teriam trocas nas próximas semanas.
A matemática feita pela
presidenta e pelos ministros Jaques Wagner e Ricardo Berzoini foi de que era
possível encampar alguns nomes de Lula, mas era necessário garantir o espaço de
outros que até agora foram fiéis à Dilma e ao PT.
No cardápio de medidas discutidas por Rousseff e Lula nos
últimos dois dias havia um possível uso de reservas internacionais do país para
a criação de um fundo destinado às obras de infraestrutura, saneamento e
energia, além da ampliação da concessão de créditos. Essas questões foram
levantadas pelo PT em seu último encontro nacional no mês passado.
A primeira delas não foi aceita de pronto pela presidenta, que
as chamou de especulação. “Jamais teremos uma pauta de uso dessas reservas para
algo que não seja proteção do país contra flutuações internacionais. E as
reservas, também, elas podem ter um papel em relação à dívida, mas elas não são
a forma adequada de se solucionar questões de investimento”. A segunda (que
trata dos créditos) deverá ter novidades em breve, conforme aliados do Governo.
Todos esses planos estão em suspenso, num momento em que as
gravações romperam pontes importantes para Lula. O ex-presidente se vê agora
entre um impeachment aparentemente inevitável de sua sucessora.
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